Situação de Aprendizagem
Conto : Pausa - Moacyr Scliar
ANTES DA LEITURA
• Objetivo:
desenvolver a competência leitora e escrita a partir das informações explicitas
e implícitas.
• *
Em relação ao título : “ Pausa” – as hipóteses levantadas:
• a-
O que esse título sugere?
• b-
O que chama atenção nesse título?
• c-
O texto é um conto ou crônica?
DURANTE A LEITURA
• Leitura
compartilhada do texto, fazendo o levantamento do vocabulário;
• Análise
do elementos narrativos;
• Definição
do gênero : conto
• Estudo
da biografia do autor.
MOACYR SCLIAR
Moacyr Jaime Scliar nasceu em
Porto Alegre (RS), no Bom Fim, bairro que até hoje reúne a comunidade judaica,
a 23 de março de 1937, filho de José e Sara Scliar. Sua mãe, professora
primária, foi quem o alfabetizou. Cursou, a partir de 1943, a Escola de
Educação e Cultura, daquela cidade, conhecida como Colégio Iídiche. Transferiu-se,
em 1948, para o Colégio Rosário, uma escola católica.
Em 1955, passou a cursar a faculdade de medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre (RS), onde se formou em 1962. Em 1963, inicia sua vida como médico, fazendo residência em clínica médica. Trabalhou junto ao Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência (SAMDU), daquela capital.
Em 1955, passou a cursar a faculdade de medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre (RS), onde se formou em 1962. Em 1963, inicia sua vida como médico, fazendo residência em clínica médica. Trabalhou junto ao Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência (SAMDU), daquela capital.
Publica seu
primeiro livro em 1962. A partir daí, não parou mais. São mais de 67 livros
abrangendo o romance, a crônica, o conto, a literatura infantil, o ensaio,
pelos quais recebeu inúmeros prêmios literários.
Faleceu no dia 27/02/2011, em Porto Alegre (RS), vítima de falência
múltipla de órgãos.
PAUSA
Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama,
correu para o banheiro, fez a barba e lavou-se. Vestiu-se rapidamente e sem
ruído. Estava na cozinha, preparando sanduíches, quando a mulher apareceu,
bocejando:
_ Vais sair de novo, Samuel?
Fez que sim com a cabeça. Embora jovem, tinha a fronte
calva; mas as sobrancelhas eram espessas, a barba, embora recém feita, deixava
ainda no rosto uma sombra azulada. O conjunto era uma máscara escura.
_ Todos os domingos tu sais cedo -
observou a mulher com azedume na voz.
_ Temos muito trabalho no escritório – disse o marido,
secamente.
Ela olhou os sanduíches:
_ Por que não vens almoçar?
_ Já te disse: muito trabalho. Não há tempo. Levo um
lanche.
A mulher coçava a axila esquerda. Antes que voltasse à
carga, Samuel pegou o chapéu:
_ Volto de noite.
As ruas ainda estavam úmidas de cerração. Samuel tirou o
carro da garagem. Guiava vagarosamente, ao longo do cais, olhando os
guindastes, as barcaças atracadas. Estacionou o carro numa travessa quieta. Com
o pacote de sanduíches debaixo do braço, caminhou apressadamente duas quadras.
Deteve-se ao chegar a um hotel pequeno e sujo. Olhou para os lados e entrou
furtivamente. Bateu com as chaves no balcão, acordando um homenzinho que dormia
sentado numa poltrona rasgada. Era o gerente. Esfregando os olhos, pôs-se de
pé:
_ Ah! Seu Isidoro! Chegou mais cedo hoje. Friozinho bom
este, não é? A gente...
_ Estou com pressa, seu Raul! – atalhou Samuel.
_ Está bem, não vou atrapalhar. O de sempre. – Estendeu a
chave.
Samuel subiu quatro lanços de uma escada vacilante. Ao
chegar ao último andar, duas mulheres gordas, de chambre floreado, olharam-no
com curiosidade:
_ Aqui, meu bem! – uma gritou, e riu: um cacarejo curto.
Ofegante, Samuel entrou no quarto e fechou a porta à chave. Era um aposento pequeno: uma cama de casal, um guarda-roupa de pinho; a um canto, uma bacia cheia d´água, sobre um tripé. Samuel correu as cortinas esfarrapadas, tirou do bolso um despertador de viagem, deu corda e colocou-o na mesinha de cabeceira. Puxou a colcha e examinou os lençóis com o cenho franzido; com um suspiro, tirou o casaco e os sapatos, afrouxou a gravata. Sentado na cama, comeu vorazmente quatro sanduíches. Limpou os dedos no papel de embrulho, deitou-se e fechou os olhos. Dormir. Em pouco, dormia. Lá embaixo, a cidade começava a mover-se: os automóveis buzinando, os jornaleiros gritando, os sons longínquos. Um raio de sol filtrou-se pela cortina, estampou-se um círculo luminoso no chão carcomido. Samuel dormia; sonhava. Nu, corria por uma planície imensa, perseguido por índio montado a cavalo. No quarto abafado ressoava o galope. No planalto da testa, nas colinas do ventre, no vale entre as pernas, corriam. Samuel mexia-se e resmungava. Às duas e meia da tarde sentiu uma dor lancinante nas costas.
Sentou-se na cama, os olhos esbugalhados: o índio acabava de trespassá-lo com a lança. Esvaindo-se em sangue, molhado de suor, Samuel tombou lentamente; ouviu o apito soturno de um vapor. Depois silêncio. Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para a bacia, lavou-se. Vestiu-se rapidamente e saiu. Sentado numa poltrona, o gerente lia uma revista.
_ Já vai, seu Isidoro?
_ Já – disse Samuel, entregando a chave. Pagou, conferiu o troco em silêncio.
_ Até domingo que vem, seu Isidoro – disse o gerente.
_ Não sei se virei – respondeu Samuel, olhando pela porta; a noite caía.
_ O senhor diz isto, mas volta sempre – observou o homem, rindo.
Samuel saiu. Ao longo do cais, guiava lentamente. Parou, um instante, ficou olhando os guindastes recortados contra o céu avermelhado. Depois, seguiu. Para casa.
Ofegante, Samuel entrou no quarto e fechou a porta à chave. Era um aposento pequeno: uma cama de casal, um guarda-roupa de pinho; a um canto, uma bacia cheia d´água, sobre um tripé. Samuel correu as cortinas esfarrapadas, tirou do bolso um despertador de viagem, deu corda e colocou-o na mesinha de cabeceira. Puxou a colcha e examinou os lençóis com o cenho franzido; com um suspiro, tirou o casaco e os sapatos, afrouxou a gravata. Sentado na cama, comeu vorazmente quatro sanduíches. Limpou os dedos no papel de embrulho, deitou-se e fechou os olhos. Dormir. Em pouco, dormia. Lá embaixo, a cidade começava a mover-se: os automóveis buzinando, os jornaleiros gritando, os sons longínquos. Um raio de sol filtrou-se pela cortina, estampou-se um círculo luminoso no chão carcomido. Samuel dormia; sonhava. Nu, corria por uma planície imensa, perseguido por índio montado a cavalo. No quarto abafado ressoava o galope. No planalto da testa, nas colinas do ventre, no vale entre as pernas, corriam. Samuel mexia-se e resmungava. Às duas e meia da tarde sentiu uma dor lancinante nas costas.
Sentou-se na cama, os olhos esbugalhados: o índio acabava de trespassá-lo com a lança. Esvaindo-se em sangue, molhado de suor, Samuel tombou lentamente; ouviu o apito soturno de um vapor. Depois silêncio. Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para a bacia, lavou-se. Vestiu-se rapidamente e saiu. Sentado numa poltrona, o gerente lia uma revista.
_ Já vai, seu Isidoro?
_ Já – disse Samuel, entregando a chave. Pagou, conferiu o troco em silêncio.
_ Até domingo que vem, seu Isidoro – disse o gerente.
_ Não sei se virei – respondeu Samuel, olhando pela porta; a noite caía.
_ O senhor diz isto, mas volta sempre – observou o homem, rindo.
Samuel saiu. Ao longo do cais, guiava lentamente. Parou, um instante, ficou olhando os guindastes recortados contra o céu avermelhado. Depois, seguiu. Para casa.
SCLIAR,
Moacyr. In: BOSI, Alfredo. O conto brasileiro contemporâneo. São Paulo:
Cutrix, 1997.
APÓS A LEITURA
• Retomar
o texto para identificar palavras-chave.
• Produzir
o um novo texto alterando o final .
INTERTEXTUALIDADE
• Ouvir
a música do Bruno e Marrone –Que pescar que nada.
• http://letras.mus.br/bruno-e-marrone/195710/
• Quais
as semelhanças e diferenças entre as personagens masculinas do texto PAUSA e a
música QUE PESCAR QUE NADA?
INTERTEXTUALIDADE
• Apresentar
a música “ Sossego “ de Tim Maia e refletir:
• A- o que
ambos tem em comum?
• B-o
relacionamento entre o casal é harmonioso?
• C-como
você chegou a essa conclusão?
• D-
na sua opinião o marido agiu de maneira correta?
CURSISTA: PATRÍCIA APARECIDA PORTO
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